Como Fisioterapeuta Osteopata, frequentemente atendo pacientes que se queixam de dores após a prática de exercícios ou movimentos intensos. Duas das fontes mais comuns e, por vezes, confundidas dessas dores são a dor muscular de origem pós-esforço (DOMS) e a dor proveniente do tecido fascial. Embora ambas possam causar desconforto e limitar o movimento, suas naturezas e as abordagens terapêuticas ideais diferem. Compreender essa distinção é crucial para um tratamento eficaz.
A dor muscular pós-esforço (DOMS): uma resposta fisiológica ao desafio
A Dor Muscular de Início Tardia, mais conhecida pela sigla em inglês DOMS (Delayed Onset Muscle Soreness), é a sensação de rigidez e dor que surge horas, ou mesmo dias, após um exercício físico não habitual ou particularmente intenso. É comum sentir essa dor após iniciar uma nova rotina de treino, aumentar a intensidade ou realizar exercícios excêntricos (aqueles em que o músculo se alonga sob carga, como a descida em um agachamento ou a fase de descida de um supino).
Por que ocorre a DOMS? Ao contrário do que se pensava no passado (acúmulo de ácido lático), a evidência científica atual aponta que a DOMS é resultado de microtraumas nas fibras musculares e no tecido conjuntivo adjacente ao músculo. Esse microtrauma desencadeia uma resposta inflamatória fisiológica no corpo, que é parte do processo de reparo e adaptação muscular. É essa inflamação e o subsequente edema que sensibilizam os nociceptores (receptores de dor), causando a sensação de desconforto.
- Características típicas: Dor que surge 24-72 horas após o exercício, sensibilidade muscular à palpação, rigidez, e uma leve diminuição temporária da força muscular.
A dor proveniente do tecido fascial: a rede esquecida do corpo
A fáscia é uma complexa rede tridimensional de tecido conjuntivo que envolve e interconecta músculos, ossos, órgãos e vasos sanguíneos em todo o corpo. Imagine-a como uma teia que dá forma, suporte e permite o deslizamento de todas as estruturas. Quando essa rede fascial sofre disfunções, a dor pode ser profunda, difusa e, muitas vezes, difícil de localizar.
Por que a fáscia causa dor? A dor fascial pode surgir de:
- Restrições e aderências: Traumas, cirurgias, posturas inadequadas, movimentos repetitivos ou imobilização podem levar à formação de aderências e espessamentos na fáscia. Essas restrições limitam o deslizamento entre as camadas de tecido, aumentando a tensão local e global e restringindo o movimento.
- Alteração das propriedades viscoelásticas: A fáscia possui propriedades viscoelásticas (capacidade de deformar e retornar à forma). Desidratação, inflamação crônica ou sobrecarga podem alterar essas propriedades, tornando a fáscia mais rígida e menos adaptável.
- Rica inervação: A fáscia é densamente inervada por mecanorreceptores e nociceptores. Tensão excessiva, distorção ou compressão nessas terminações nervosas podem gerar dor local ou dor referida para áreas distantes (padrões de dor miofascial).
- Características típicas: Dor mais persistente ou crônica, sensação de “aperto”, rigidez que piora com o repouso e melhora um pouco com o movimento suave, dor que pode ser difusa ou irradiar para áreas não relacionadas a raízes nervosas. A palpação pode revelar áreas de “nós” ou “cordões” tensos.
A abordagem do Fisioterapeuta Osteopata: uma visão integrativa
Como Fisioterapeuta Osteopata, minha abordagem para a dor, seja ela muscular pós-esforço ou fascial, é sempre holística e integrativa. A dor raramente é um problema isolado; ela geralmente é o resultado de uma disfunção que afeta a interconexão de diferentes sistemas do corpo.
- Avaliação detalhada:
- Por meio de uma anamnese minuciosa e um exame físico osteopático completo, busco identificar não apenas a fonte da dor (se é muscular ou fascial primariamente), mas também as causas subjacentes e as disfunções somáticas associadas. Avalio a mobilidade articular, a qualidade tecidual, a postura e os padrões de movimento. Ainda, os aspectos psicossomáticos que podem estar envolvidos. Pois o tecido fascial é passível de resposta aos níveis elevados de estresse emocional.
- Técnicas de Terapia Manual:
- Para a DOMS, a intervenção visa modular a resposta inflamatória, melhorar a circulação e otimizar a recuperação muscular. Técnicas suaves podem ser empregadas.
- Para a dor fascial, utilizo técnicas específicas de liberação miofascial, que visam restaurar a elasticidade e o deslizamento entre as camadas de fáscia, eliminar restrições e normalizar a tensão. Isso pode incluir trações, deslizamentos profundos e pressões sustentadas. Além disso, técnicas de mobilização articular e manipulação podem ser usadas para restaurar a função das articulações que podem estar sofrendo com as tensões fasciais.
- Exercícios terapêuticos e reeducação:
- A intervenção vai além do tratamento manual. Oriento exercícios terapêuticos específicos, alongamentos e técnicas de automassagem para que o paciente mantenha os ganhos obtidos no consultório e promova a saúde de seus tecidos a longo prazo. A reeducação do movimento também é fundamental para prevenir futuras disfunções.
Se você está sofrendo com dor persistente após exercícios ou sente uma rigidez e desconforto que não melhoram, procure um profissional qualificado. Uma avaliação osteopática pode identificar a verdadeira origem da sua dor e traçar um plano de tratamento eficaz e individualizado.